domingo, 12 de dezembro de 2010

Vivendo e aprendendo

 
Num dia destes, enquanto eu caminhava apressada pra chegar no trabalho, escutei um trecho de conversa entre duas pessoas. Um homem mal vestido, sujo, aparentando ser um mendigo e uma mulher que eu já vi muitas vezes sentada na entrada do Trensurb pedindo moedas.
Ele passa por ela e oferece um gole de refrigerante de uma latinha que provavelmente ele ganhou com o resto de alguém... Ela responde: “não obrigada, eu já bebi” (apontando pra uma latinha de refrigerante ao lado dela no chão)... imagino que a dela também tenha sido doada por alguém, porque mendigo não compra refrigerante em lata; se ela fosse comprar provavelmente compraria um copo que é bem mais barato. Ele respondeu: “então boa sorte... feliz natal!” e seguiu o seu caminho.
Eu não parei pra falar com nenhum deles, nem ao menos diminuí a velocidade dos meus passos, apenas continuei caminhando, com este trecho de conversa se repetindo na minha cabeça. Como este homem que quase não tem nada pensou em dividir o pouco que tinha? Ele ainda desejou boa sorte à ela... no que será que ele pensou? Que ela tenha sorte e as pessoas sejam mais sensíveis e colaborem mais com ela? Feliz natal como? Será que eles conseguem ser felizes sem ter nada e depender da boa vontade dos outros? Mas a gente não precisa ter tanta coisa pra ser feliz? 

De repente eu me senti tão egoísta! Eu já passei muitas vezes por aquela mulher e nunca dei nada, nem um bom dia! Aliás, a gente acabou se acostumando a ver pessoas sentadas no chão, maltrapilhas e sujas, com a mão estendida pedindo ajuda. Mas não é normal! São pessoas e não animais de rua, mas estão revirando as latas de lixo atrás de comida igualzinho a eles... são humanos vira-latas, pessoas de rua... mas deles ninguém tem pena! Poucos levam um prato de comida como fariam para um cachorrinho abandonado; são humanos abandonados.

Muitas vezes eu dou umas moedas, mas é mais por medo de ser assaltada ou pra me livrar da pessoa do que por verdadeira  vontade de ajudar. Eu nem olho direito pra quem está pedindo! Não estou aqui dizendo que sou um ser humano pior do que os outros; antes fosse... antes  só eu estivesse ficando menos sensível ao sofrimento alheio, mas o que vejo é o contrário. Vejo as pessoas dizerem que dar dinheiro ou comida não resolve o problema; que quem tem que fazer alguma coisa é o governo; que não dando nada estão ajudando a pessoa a ser obrigada a mudar de vida; blá, blá, blá... Não dar nada não ajuda em nada! Eu não acredito que alguém que pudesse ter um emprego, e dinheiro pra ter uma casa, roupas limpas, comida quente, preferiria simplesmente continuar morando na rua e comendo restos do lixo por ser “mais fácil” do que trabalhar. Mais fácil? Quem trocaria de lugar com eles?

Naquele momento, aquele mendigo me ensinou mais sobre natal que todas as propagandas de televisão têm mostrado. A mensagem de natal não é a de repartir, ser mais humano, mais solidário? Pois este homem de rua, provavelmente sem casa, sem estudo, sem emprego, me ensinou mais do que eu poderia ensiná-lo sobre solidariedade.

Eu não sei exatamente o que fazer pelas pessoas que não têm nada e que andam pela rua pedindo ajuda, mas o que eu não posso é cair no erro de me acostumar com a situação; achar normal o que não é normal... eu não acredito que algumas pessoas nasceram pra ter tudo e outras pra não ter nada; não está certo e eu quero pelo menos lembrar sempre disso e tentar ser mais solidária. Feliz natal pra todos!

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