Nesta semana mais de 230 pessoas morreram num incêndio em
uma boate na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Difícil imaginar quem
não tenha ficado triste pelas vítimas e pela dor dos familiares.
Quem não pensou pelo menos por um instante que poderia ter
acontecido consigo ou com alguém próximo? Somos todos iguais perante uma
tragédia! Qualquer um de nós corre o risco de estar em um local público como um
shopping, restaurante ou cinema no momento de uma fatalidade, o que nos lembra
que a vida é frágil e imprevisível.
Mas e o outro lado? Se qualquer um de nós pode se tornar
vítima a qualquer momento, será que estamos livres de nos tornarmos
responsáveis por uma fatalidade?
Quase imediatamente à divulgação de uma tragédia as pessoas
começam a bradar por justiça, afinal “o culpado deve ser punido”. No incêndio
da boate, várias pessoas estão sendo investigadas (e já criticadas por muitos):
os donos da boate, os músicos da banda que usaram o sinalizador que começou o
fogo, os seguranças, o técnico de palco, enfim: várias pessoas serão apontadas
como monstros que mataram centenas de pessoas. Mas eles são realmente monstros?
Até aquele momento eram pessoas boas, trabalhadoras e responsáveis, e em
algumas horas uma tragédia transformou a vida delas e de suas famílias:
provavelmente alguns vão ser condenados a muitos anos de prisão por que
cometeram algum erro. Não quero defender a impunidade, apenas levantar uma
questão: quem de nós nunca cometeu um erro no seu trabalho? Alguns vão dizer
que seus erros nunca mataram ninguém, mas, e se matasse? Se tu cometesse um
erro que levasse alguém à morte tu te tornaria um monstro? Tu mesmo, com
certeza uma pessoa boa, honesta e bem intencionada; já pensou como seria se um
erro teu causasse a morte de alguém? Com certeza seria um sofrimento imenso pra
ti e pra tua família.
Eu vejo que uma pessoa qualquer, por melhor que seja, pode
vir a cometer um erro e ter a sua vida transformada.
Quantos já passaram por isto?
Uma dedicada funcionária de uma creche, se vira
para atender uma criança que está chorando e dá as costas por 2 ou 3 minutos
para outra que sobe em uma estante, cai e morre. Pronto, esta pessoa
maravilhosa a partir deste momento passará a ser vista como uma irresponsável
criminosa. Com certeza vai ser julgada por homicídio culposo e deverá ser
presa. A dona da creche (que nem estava dentro daquela sala) também poderá ser
presa pelo simples fato de ser a dona. Quem de nós não poderia estar em uma
destas posições?
Um motorista que sempre dirige o seu carro de forma responsável numa fração
de segundos desvia o olhar para ligar o rádio ou pegar o celular que caiu e
acaba atropelando e matando três pessoas. A partir de agora será apontado como um
monstro assassino que vai a julgamento e será condenado à prisão. Tu que dirige
tão bem ou o teu filho, que também é um motorista tão consciente, não pode vir
a estar numa situação destas?
Existem pessoas que são tão intolerantes ao apontarem os
erros dos outros que esquecem que todos os seres humanos (inclusive eles) são
passíveis de cometer erros.
E o desprezo com que alguns se referem aos presos,
generalizando que todos cometeram crimes intencionalmente por pura má índole ou por culpa dos pais? Se o próprio filho, aquele menino bom e responsável acabar cometendo um erro e
for parar na prisão? Com certeza este pai conhecerá a dor que os pais dos
outros presos sempre sentiram e ele nunca teve a menor compaixão.
Não temos domínio sobre nossos futuros nem de nossos filhos:
hoje assistimos uma tragédia de nossas casas, mas amanhã podemos fazer parte de
uma, como vítimas ou como algozes.
Precisamos nos tornar pessoas mais humildes e de corações
mais brandos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário