quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Gente sem noção – O médico diferente

 
É interessante como algumas características são tão comuns entre determinados profissionais que já imaginamos que todos são mais ou menos iguais. Todos os médicos que eu já tinha consultado eram tranqüilos, falavam baixo e devagar e faziam várias perguntas antes de expressar qualquer tipo de opinião. Surpresa: nem todos são assim!

Ontem fui consultar um traumatologista. Meu objetivo era simples: só queria uma requisição para uma ressonância para descobrir exatamente o que me causa tanta dor nas costas e assim poder buscar o tratamento mais eficaz.

Quando cheguei ao consultório cada frase que o médico falava (do jeito que falava) era uma surpresa. O cara falava muito rápido e alto e ia deduzindo coisas que eu não tinha dito.
Eu sentia como se ele estivesse me criticando por alguma coisa que eu não tinha feito; eu ficava esperando ele parar um pouco de falar pra dar as informações que ele não estava me pedindo. Foi mais ou menos assim:

- Ele: O que te traz aqui? Andou caindo, se machucando...?
- Eu: Não, não me machuquei, mas tenho uma dor na lombar que já dura uns 9 meses.

E aí começa a conversa estranha:

- Ele: pois é, mas sem exames eu não posso saber o motivo da tua dor (eu não tinha dito que não queria fazer exames!). Mostra aí onde dói. Eu levantei e mostrei o meio das costas, na altura da cintura.
Ele perguntou se a dor se estendia para as pernas e eu disse que não, que ela ficava só naquele ponto e principalmente quando eu ficava em pé e/ou caminhava.
- Ele: é como eu te disse, tem que fazer pelo menos um raio X!
- Eu: há uns dois meses eu fui num atendimento traumatológico de urgência e fiz várias radiografias.
- Ele animado: E trouxe os exames?
- Eu: Não, o médico não me entregou.
- Ele (com cara de quem ia me mandar embora imediatamente e só voltar com os exames): Então como é que eu vou adivinhar o que apareceu na radiografia?
- Eu (pacientemente como quem fala com uma criança pequena ou um adulto sem noção): O médico me mostrou os exames e me explicou que os espaços entre as minhas últimas vértebras estavam menores do que os espaços entre as outras.
- Ele (como se tivesse feito uma grande descoberta): Ah ta! Então é desgaste! Se os espaços estão menores é desgaste!
- Eu (pensando que ele tava me chamando de velha): Só desgaste? Não pode ser alguma outra coisa?
- Ele (me interrompendo): O que ele mandou tu fazer?
- Eu: Ele disse pra eu fazer 30 sessões de fisioterapia e se não resolvesse era pra eu voltar pra fazer outros exames. Mas não seria melhor já ter feito outros exames? Eu não cheguei a fazer fisioterapia...
- Ele (encerrando a questão): Não! Se o raio x mostrou que é desgaste qualquer exame vai mostrar a mesma coisa! E não vai curar se tu não fizer nada... e não adianta só se encher de remédio (como se eu tivesse pedindo receita de medicamento)
- Eu, interrompendo a frase dele, calmamente: eu evito ao máximo tomar remédios. E não fiz fisioterapia mas fiz 8 sessões de acupuntura. Até sentia um certo alívio no dia seguinte mas depois voltava a dor. Eu achei melhor parar um pouco, fazer outro exame e ter uma orientação de qual o melhor tratamento.
- Ele: Mas 8 sessões é muito pouco! Tem muito tratamento bom! Eu gosto de Pilates, fisioterapia tradicional, acupuntura, hidroginástica... Mas nada vai resolver em 8 sessões! E cirurgia pra colocação de placas e pinos de metal é só em último caso! (como se eu tivesse pedindo pra ele me operar!)
- Eu: Não, mas eu não quero nem pensar em cirurgia! Eu posso fazer qualquer destes tratamentos, mas eu pensei que seria melhor eu ter um exame pra levar para o fisioterapeuta poder indicar o melhor tratamento para o meu caso.
- Ele: Ah, mas tu vai levar o exame! (começou a rabiscar num formulário com uma letra que eu não entendia; pelo menos na letra ele era igual à maioria dos médicos!). Este exame é o melhor que existe: a ressonância magnética. Ainda não inventaram nenhum exame mais completo e nem sei se vão inventar.
- Eu só ri pensando: ele não sabe que a medicina ta sempre evoluindo? Com certeza ainda vão inventar exames ainda melhores, mas nem quis puxar mais nenhum assunto...

Levantei e fui pra porta rapidamente, tendo em mãos aquilo que eu fui buscar: a requisição do exame. Mas precisava ter me torturado tanto?

Parecia que era uma daquelas pegadinhas que alguém nada a ver assume a posição de um profissional e vai dizendo absurdos pra testar a reação das pessoas. O pior é que não era pegadinha!
Eu saí rindo sozinha, lembrando que sempre que alguém me diz: “eu morro e não vejo tudo” eu respondo: “eu morro e não vejo nem metade!

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