terça-feira, 25 de outubro de 2011

Pior sem eles


Eu uso óculos para enxergar de perto a uns 3 ou 4 anos e hoje foi a primeira vez que eu os esqueci em casa.

Saí pra trabalhar na hora de sempre, peguei o ônibus lotado de cada dia e como normalmente acontece, lá pela metade do percurso um banco ficou vazio e eu consegui sentar. Abri imediatamente a bolsa, peguei o livro que estou lendo e quando abri o estojo dos óculos a surpresa: vazia! Neste momento eu pressenti que seria um longo dia!

A primeira coisa que me passou pela cabeça foi voltar pra casa pra buscar os óculos, mas se eu fizesse isto acabaria chegando ao trabalho com quase duas horas de atraso (má idéia pra quem está em emprego novo). 
 
Cheguei à empresa, sentei em frente ao meu computador e pensei: vai começar o martírio... mas vamos lá, tudo vai dar certo, são 8 horas da manhã e só faltam 9 pra eu ir pra casa (ops, lembrei de mais um detalhe: é dia de encontrar o pessoal do curso de inglês pra estudar! Tá feia a coisa pro meu lado!).

Contei só pras colegas mais chegadas (é claro que eu não ia contar pros chefes e colegas novos que tinha esquecido os óculos e não estava enxergando quase nada!) Por sorte, como eu só uso os óculos na frente do computador, ninguém percebeu nem me perguntou nada. 

Quando fui almoçar com a minha colega olhei para o buffet de comidas e disse: olha, hoje tem batatas fritas! Ela olhou pra onde eu apontava e me olhou de volta rindo: aquilo não é batata frita é massa penne! (ri de mim mesma e depois contei pras outras amigas o acontecido). No começo da tarde o meu gerente me chamou para uma reuniãozinha e pediu que o ajudasse a responder a um email importante. Desta vez me saí bem: eu ia dando minhas sugestões e olhando pra tela sem deixar transparecer que não estava enxergando nada do que ele digitava. 

No final do dia eu estava com dor de cabeça mas um grande alívio: eu sobrevivi à dificuldade! Tinha conseguido trabalhar o dia todo e cumprir todas as minhas tarefas; a princípio só fiz uma besteira que foi mandar um email pra pessoa errada, que me devolveu demonstrando não ter entendido a minha mensagem. Talvez amanhã eu descubra algum erro que hoje eu não enxerguei (literalmente).

Este dia foi bom pra eu me dar conta das minhas limitações! Como é estranho e como causa insegurança não estar nas condições normais e ter muita dificuldade pra fazer as mesmas coisas que faz todos os dias com tanta facilidade. 

Foi difícil mas passou! Cheguei em casa e o bonito estava bem quietinho ao lado do meu computador! (olhei pra ele e disse: “Custava ter me avisado que tava aí antes de eu sair de casa?” 

A conclusão é simples: às vezes é difícil conviver com eles, mas a vida fica bem pior sem eles (os óculos!)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Novas necessidades

Quando eu era criança, a televisão era em preto e branco e a gente não só adorava como não imaginava a possibilidade de existir imagem colorida. Hoje não conheço ninguém que ainda tenha uma TV em preto e branco em casa.

Quando não existia celular, a gente achava normal só conseguir falar com alguém quando a pessoa estivesse em casa ou no trabalho; o fato de não podermos nos comunicar com alguém enquanto a pessoa estivesse na rua normalmente não chegava a causar nenhum grande problema. Hoje, se a gente liga para o celular de alguém e a ligação não é atendida, já causa preocupação e muitas vezes até irritação: “pra que ter celular se não atende”? 

E a máquina fotográfica? A gente precisava utilizar o filme todo para poder mandar revelar e muitas vezes o filme queimava e não se aproveitava nenhuma foto. Hoje a gente vê na hora se a foto ficou boa e descarta as que saímos com olhos fechados ou que ficamos gordas ou feias (sim, porque ninguém quer arriscar que uma foto feia venha a público). 

E os computadores? Eu sou do tempo da máquina de escrever! Quando surgiu o computador e a gente pôde imprimir o que digitava já foi o máximo, mas agora a gente nem precisa imprimir um texto, basta enviar por email (além de fotos, vídeos, músicas, etc...).

Não estou tendo um surto saudosista não! Não é uma questão de saudade, eu só estava pensando que a gente vive muito bem com o que tem, até que conheça algo melhor. Não é mesmo?  

Pensa bem: a gente estava bem com o telefone fixo, a TV em preto e branco,  a máquina fotográfica e a de escrever, mas depois de conhecer o celular (cada vez com mais funções), a TV colorida (cada vez maior), a câmera digital e o computador, o que a gente tinha passou a ser insuportável. Quem consegue ficar satisfeito com o que tinha antes (e era satisfatório) depois de experimentar algo melhor? E gozado que em pouco tempo a gente se acostuma e deixa de ser tão especial, passa a ser o normal que atende as necessidades (pelo menos até que apareça coisa melhor).

Já ouvi pessoas dizerem: “acho que não vou, tô sem carro hoje”. Como assim? Antes de ter carro passou anos andando de ônibus e não deixava de ir a lugar nenhum!

Tem gente que volta de um feriado prolongado e diz: “hoje foi difícil acordar; não estava mais acostumada a acordar cedo.” O ano todo acordou cedo e só porque dormiu mais durante quatro dias de folga já “desacostumou”? 

Como é fácil acostumar com o que é bom!

Eu fico tentando imaginar que necessidades eu ainda nem sei que eu tenho e alguém vai achar um jeito de satisfazer.

O que será que eu ainda não conheço, não me faz a menor falta, mas depois que eu conhecer não vou mais poder me imaginar sem? 

Não sei, mas que vai acontecer vai.

sábado, 8 de outubro de 2011

Sou uma criança madura

O aspecto mais bonito da infância não é a inocência? A criança acredita em tudo que lhe é dito, nunca imagina que alguém possa desejar o seu mal, apóia cegamente os seus amigos e é fiel a eles incondicionalmente. 

Estas características vão se modificando com o passar dos anos, de acordo com as experiências pelas quais a pessoa vai passando; alguns amadurecem muito cedo, mas eu mantive estas características intactas por muito tempo.  

Eu sempre acreditei que todas as pessoas eram boas e bem intencionadas e que quando magoavam ou prejudicavam alguém, o faziam sem intenção.   

A minha reação quando uma pessoa era grosseira comigo ou de alguma forma me atingia, sempre foi a de desculpar sem nem ao menos esperar (ou receber) um pedido formal de desculpas. Eu achava que seria mesquinho ou hostil da minha parte confrontar a pessoa e sempre decidia relevar e esquecer, numa espécie de “política de boa vizinhança” com toda a humanidade. Agora eu demonstro minha insatisfação quando sou destratada. Eu posso desculpar, se a pessoa demonstrar arrependimento e mudar seu comportamento, mas também posso me afastar sem culpa de quem não mostrar intenção de me tratar bem.   

O que mudou? Não sei bem, mas parece que comecei a prestar mais atenção e a perceber que nem todas as pessoas são boas o tempo todo. Tá bom, eu me rendo: existem pessoas que invejam o que os outros possuem, que se incomodam em ver alguém se dar bem e que não se importam em ferir os sentimentos dos outros pra conseguirem alcançar o que querem. 

Acho que minha porção criança está diminuindo e minha porção adulta está ocupando um espaço maior; minha tolerância foi diminuindo à medida que minha auto-estima foi aumentando.

Continuo disposta a tratar bem todas as pessoas, mas agora eu vejo que não é errado eu esperar delas a mesma atitude em relação a mim.  

Meu lado criança continua sendo amiga fiel, adorando desenhos animados, rindo de piadas ingênuas; meu lado adulto agora exige ser bem tratado. 

Ainda acho que a maioria das pessoas são bem intencionadas, mas agora enxergo a minoria que desrespeita ou não se importa. A minoria não vai me deixar amarga e desconfiada, mas também não vai mais passar despercebida.

Ainda sou criança, mas agora uma criança madura.